Oração Lakota (Sioux)

Oração Lakota (Sioux)

Wakan Tanka, Grande Mistério
Ensina-me a confiar
Em meu coração,
Em minha mente,
Em minha intuição,
Em minha sabedoria interna,
Nos sentidos do meu corpo,
Nas bençãos do meu Espírito,
Ensina-me a confiar nessas coisas
Para que eu possa entrar no meu Espaço Sagrado
E amar muito além do medo
E assim caminhar na beleza
Com o passo do glorioso Sol

Amigos do Blog Xamãs na Umbanda

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Culto a Maria Lionza



A Venezuela tem uma população de 27 milhões de pessoas. Destes, 30% veneram a mítica María Lionza como Deusa da Natureza, encarregada de proporcionar a purificação espiritual e a libertação de sofrimentos físicos.






Tambores ecoam pela noite. Sua uniformidade rítmica
entorpece os sentidos de milhares de pessoas
que vieram de todas as partes da Venezuela. Algumas até vieram dos
Estados Unidos e da Europa para esta região remota
no Noroeste do país. Eles peregrinam até o altar de María Lionza, um deusa popular, governante suprema sobre um séquito de deuses subalternos.





Cerimônia quente 
Quando os seguidores do culto a María Lionza se encontram para sua reunião anual, eles querem expulsar demônios. De acordo com a crença popular, as cerimônias com velas, vinculadas a uma profunda meditação, servem para o expurgo espiritual e a cura física
Contato com os espíritos
Deitada de costas em um círculo mágico de farinha, uma jovem mulher se concentra em um ritual de limpeza espiritual. Até 5.000 pessoas comparecem anualmente à "Dança do Fogo", no sopé do monte Cerro De Sorte. A maioria dos peregrinos é católica, o que não impede que elas e outros tantos milhões de pessoas na Venezuela sigam o culto centenário a María Lionza, a mítica filha de um índio. Não existe uma obra com regras fixas para as práticas da crença. Mesmo a mulher excêntrica com lenço de cabeça que se chama de "Eriças, a Viking" é aceita. Um papel importante é desempenhado pelos estados de transe (embaixo) conduzidos por xamãs, que em muitos círculos culturais são considerados um caminho para a cura espiritual



Ritos marciais suaves 

A cabeça banhada por água; uma faca na boca: entregar-se, como esta menina, a situações ameaçadoras deve ajudar a expulsão de espíritos maus. Mas ninguém sofre danos físicos nesses exorcismos de aspecto marcial. Os adeptos do culto demonstram sua proximidade emocional com María Lionza por meio de guirlandas de flores. Ela também é venerada como governante suprema da natureza. Dizem que ainda mora no Monte Cerro De Sorte, já declarado Parque Nacional. Um expurgo de demônios mais cauteloso é realizado por um grupo de fiéis (embaixo): as pessoas se envolvem em nuvens de talco




Encontro de mundos 

Liberar energias espirituais e trocá-las em um íntimo contato físico, isso ocorre frequentemente na água que, para os fiéis, é um elemento com propriedades purificadoras e curativas. Inclusive para a mulher na cachoeira, que está sendo colocada em um transe por um xamã. O altar improvisado com o copo de plástico é dedicado à negra Francisca, pertencente à "Corte Negra". O império de María Lionza é subdividido em muitos estados cortesãos santos, com numerosas divindades subalternas. A Corte Negra representa as almas dos escravos africanos e da população mulata. A "Corte do Índio" reúne os espíritos de lendários caciques venezuelanos. Simon Bolívar, por exemplo, pertence à "Corte dos Libertadores". Foi quem, no século XVIII, comandou a guerra de libertação contra os espanhóis



A linguagem dos sinais 
Ao longo do caminho para o Monte do Cerro De Sorte, onde se encontra o altar de María Lionza, há muitos santuários como este, de pedra ou madeira. Seus sinais mágicos, de talco ou farinha, evocam os espíritos e devem desviar perigos. Os peregrinos fazem pausas nesses locais e são iniciados pelos guardiões xamãs em um nova etapa de sua viagem espiritual. Enquanto um seguidor se entrega aos deuses em um círculo mágico, outros sopram fumaça de charuto, que deve ter um efeito purificador, sobre ele. Nem sempre os peregrinos recebem permissão para prosseguir sua jornada rumo ao topo da montanha. Dizem que quem continua a subida sem essa autorização se torna vítima da vingança dos espíritos. Na floresta tropical há serpentes venenosas de sobra para deixar que a maldição se concretize


QUIBALLO




 É UM AGLOMERADO de barracões miseráveis e alguns estabelecimentos simples no meio da floresta tropical, aos pés do Monte Cerro de Sorte. Aqui se realiza anualmente, no outono, o Baile de las brasas, a dança sobre brasas vivas, centro dos inúmeros rituais e de cultos orgiásticos. À meia-noite, pessoas que se declaram "sacerdotes" acendem grandes fogueiras, e os mais corajosos entre os peregrinos, em estado de torpor por meio de danças extáticas e cachaça de agave, andam descalços sobre a cama incandescente que se formou no chão. Alguns até enfiam pedacinhos de lenha quente na boca.
A Venezuela tem uma população de 27 milhões de pessoas. Destes, 30% veneram a mítica María Lionza como Deusa da Natureza, encarregada de proporcionar a purificação espiritual e a libertação de sofrimentos físicos. O culto vincula tradições indígenas como elementos do vodu, praticado pelos escravos negros trazidos no passado da África Ocidental. Mas ele só ganhou popularidade na virada do século XIX para o século XX, quando o francês Léon Dénizarth-Hippolyte Rivail perambulou por cidades latino-americanas realizando sessões de transe, desencadeando um novo fascínio pela espiritualidade dos antigos rituais de cura. Originalmente batizada com o nome de María de la Onza (da Onça), María Lionza transformou-se rapidamente em ícone popular. A Igreja Católica da Venezuela reagiu com tolerância e, desde então, a trata como Santa, para incluir o tão apreciado culto, seguido tanto pela população mais simples, como também por artistas e intelectuais.
O centro das cerimônias mágicas é dominado pela cura, espiritual e corporal. Quem se submete aos rituais, une-se ao Cosmos, reúne forças, reconquista seu equilíbrio e se exime do mal. E se livra de dores, razão pela qual a maioria dos dançarinos das brasas não sentem o grave desconforto que elas, teoricamente, deveriam lhes proporcionar. Mesmo após a festa, de volta à labuta cotidiana, muitos sofrimentos físicos parecem desaparecer; as dores crônicas nas costas ou o eterno retorno da enxaqueca. María Lionza, a Deusa da Natureza, parece tê-los ajudado.
Muitas religiões relatam que experiências espirituais têm efeitos físicos. Assim, faquires indianos conseguem se deitar ilesos sobre tábuas cheias de pregos, porque, em exercícios de meditação, treinaram como desassociar a dor de seu corpo físico, ou seja, isolá-la mentalmente. Embora ainda registrem a dor, ela não parece ter mais nada a ver com eles, o que facilita imensamente a tarefa de suportá-la. Mas isso só funciona enquanto o faquir se mantiver imerso no estado meditativo, se pisasse na rua, descalço, em uma tachinha, sua falta de sensibilidade estaria imediatamente liquidada.


A CAPACIDADE DO CONTROLE CONSCIENTE DA DOR está ancorada na camada mais externa do córtex, no chamado córtex pré-frontal. Este, por sua vez, está ligado, entre outros, ao sistema límbico, onde ele controla os sentimentos. Alguns de seus tratos nervosos servem especialmente para chamar a atenção para um evento de dor, principalmente aqueles que vão para o giro cingulado anterior, uma parte da face medial do cérebro, que avalia os impulsos de dor em comparação com outras impressões sensoriais. O transe ou a meditação podem alterar essa avaliação e fazer com que a dor assuma conscientemente um segundo plano.

Até a era moderna, não existiam à disposição analgésicos eficientes, como os que conhecemos hoje. O máximo que havia era uma cachaça e, ocasionalmente, ópio. O éter, como anestésico para cirurgias só foi descoberto em 1846. Por isso, entre os procedimentos mais antigos no combate à dor está o sugestionamento, uma parte integrante das evocações do xamanismo, mas também das orações de cura e saúde. O médico alemão Franz Anton Mesmer (1734-1815), um curandeiro de seu tempo, também se engajou fixamente na luta contra a dor. As ciências naturais tinham acabado de descobrir o magnetismo; portanto, ele mandava que seus pacientes formassem um círculo ao seu redor e ele, no centro como um maestro, os "magnetizava" com uma espécie de cajado de ferro. O fato de as dores desaparecerem nesse procedimento é atribuído à sua força de sugestão. Por isso, Mesmer é considerado o pioneiro da hipnose. Entretanto, esse tipo de terapia só alcançou status médico e psicanalítico moderno através do psiquiatra americano Milton H. Erickson (1902-1980), que elaborou e avaliou diversas técnicas diferentes. Por meio da auto-hipnose ele conseguiu dominar suas próprias dores crônicas que o atormentavam desde um episódio de paralisia infantil.
A hipnose ajuda mais em casos de dores nas extremidades, em que os pacientes simplesmente imaginam expulsá-la do corpo. Em alguns casos, os afetados também aprendem a se dissociar de todo o seu corpo e se perceber, por assim dizer, "do lado de fora". Entre 60 e 90% das pessoas podem ser hipnotizadas com intensidades variáveis. Mas por alguma razão que permanece desconhecida, cerca de 10% resistem a qualquer tentativa de sugestionamento.
ALÉM DA MEDITAÇÃO e da autossugestão, também é possível treinar a suportar dores. Influências culturais, por exemplo, desempenham um papel importante, como foi constatado por pesquisadores que estudaram o povo eipo, uma etnia do oeste da Nova Guiné. Ali, até crianças pequenas suportam a dor sem lágrimas, por exemplo, quando a cartilagem do nariz ou os lóbulos de suas orelhas são perfurados com pauzinhos afiados. Pesquisadores comportamentais consideram isso uma espécie de treinamento cuja meta seria preparar os eipos a suportarem com impassibilidade estoica cargas pesadas, frio, fraturas ósseas e ferimentos quando adultos. Há técnicas por trás dessa capacidade de resistência. Por exemplo: os eipos esfregam urtigas nas partes doloridas do corpo, provocando assim um "dor contrária" mais branda que desvia a atenção do impulso da dor mais forte. Mas a verdade é que eles são impotentes contra dores internas, como inflamações e tumores. Como não desenvolveram um procedimento para lidar com elas, eles sofrem porque não aprenderam a controlá-las.
Na Venezuela, os rituais de purificação devem servir para também expulsar o mal das partes mais íntimas do corpo. Seus adeptos mergulham em transe por meio da ingestão de potentes bebidas alcoólicas e outras drogas, e afirmam que, dessa forma, se transformam em médiuns. Quando os espíritos finalmente se apossam deles, sacerdotes os tratam com cachaça ou fumaça de charuto; ocasionalmente, também flui algum sangue de pequenos ferimentos infligidos propositalmente. Do ponto de vista médico, esses estímulos efetivamente modificam a sensação corporal; assim, também poderiam ter um efeito curativo. Mas os seguidores de María Lionza guardam uma outra certeza: foi a própria deusa que os libertou.




Fonte: a espanhola Cristina Carcía Rodero documentou a festa com a ajuda da fotografia
Revistageo.com.br

domingo, 30 de outubro de 2011

Boa Intenção



Não se julga as pessoas só por suas ações, mas principalmente por suas intenções.
Não se cria possibilidades alternativas sem antes se ter consciência de que tudo foi tentado pelo bom alvitre.
Manter-se sereno é a criação dessas situações benéficas, dirigidas e controladas para si e para outros.
Não repita o mesmo erro, ele provavelmente originou-se dentro de você mesmo, como reflexo de suas intenções; oriente-se e caminhe-as para que seus erros convertam-se em boas ações.
A inquietude pode ser controlada, é só desviar-se das contrariedades e deixar pacificamente as boas intenções acontecerem.
O sorriso sincero é o maior antídoto contra as contrariedades, dele vem a alegria e a segurança, mesmo que alguns se sintam inquietos com isso, mas não importa, eles também um dia aprenderão a sorrir honestamente.
Você não precisa acreditar que tudo que está a lhe cercar vem de algo supremo. Porém, tente imaginar o quanto difícil seria se, de tudo, nada se aproveitasse e apenas passasse como algo simplesmente superficial e inócuo.
A boa intenção sempre terá reflexo positivo; assim como uma obra a erguer-se, firme e bonita, saiba que o alicerce terá como estrutura a intenção.
Se ela for boa, a construção será duradoura, a acobertar você e muitos.
Se não for boa, você já sabe! Estará sempre a restaurá-la, para nunca terminá-la.
De boa intenção, amizade e fraternidade eterna.

Vovó Maria Conga

Fonte: Umbanda é Luz, Wilson T. Rivas(Ytaçuan)

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

TAMBOR DE MINA E UMBANDA


TAMBOR DE MINA E UMBANDA: O culto aos caboclos no Maranhão

Visão geral sobre a religião afro-brasileira do Maranhão e, em especial, sobre as entidades espirituais caboclas, apoiada em pesquisa sistemática realizada em terreiros de Mina de São Luís, a partir de 1984, em entrevistas e observações realizadas no interior do Estado e em terreiros de outras denominações religiosas afrobrasileiras.
Fala da relação e das diferenças entre as entidades espirituais caboclas e as indígenas e compara o caboclo do Tambor de Mina com o recebido em terreiros de Umbanda no Maranhão.

A RELIGIÃO AFRO-BRASILEIRA NO MARANHÃO


Não se pode falar em religião afro-brasileira do Maranhão sem falar em Tambor de Mina e nos dois terreiros mais antigos dessa denominação religiosa, localizados no bairro de São Pantaleão (Centro): a Casa das Minas - Jeje, consagrada ao vodum Zomadonu, e a Casa de Nagô, consagrada ao orixá Xangô - abertas em meados do século passado por africanos.
Acredita-se que a primeira tenha sido fundada por uma rainha do antigo reino do Dahomé, vendida como escrava após o falecimento do Rei Agonglô (1797), ou por pessoa por ela iniciada (VERGER, P., 1990). Fala-se que a Casa de Nagô foi aberta por outro grupo, com a colaboração da primeira, razão pela qual é muito ligada a ela.
O Tambor de Mina surgiu na capital do Maranhão, se expandiu pelo Pará, Amazonas,outros Estados do Norte e para as capitais que receberam grande número de migrantes do Norte, como Rio de Janeiro e São Paulo. Embora hegemônico no Maranhão, o Tambor de Mina - Jeje, Nagô, Cambinda, foi sincretizado no passado com manifestação religiosa de origem indígena denominada Cura/Pajelança e com uma tradição religiosa afro-brasileira, surgida em Codó (MA), denominada Mata ou Terecô.
A partir dos anos sessenta a Mina e a Mata passaram a ser influenciadas pela Umbanda, tanto na capital como no interior do Estado. Hoje, embora as casas de Mina mais antigas não tenham se filiado a Federações de Umbanda, muitos terreiros de Mina e de Mata adotaram a Umbanda e, apesar de continuem realizando rituais de Mina, Mata e Cura(3), se apresentam como de Umbanda e participam de atividades promovidas pela Federação como: a Festa de Iemanjá, no ano novo, e a Procissão dos Orixás, no aniversário da fundação de São Luís.O Candomblé só penetrou de forma mais visível no Maranhão depois dos anos setenta,especialmente na Casa Fanti-Ashanti, sobre a qual trato especificamente em Desceu na Guma (1993) e em Tambor de Mina, Cura e Baião na Casa Fanti-Ashanti (1991).
Os terreiros de Mina mais antigos não estimulam a abertura de outras casas. A Casa das Minas não reconheceu, ate hoje, nenhuma outra como Mina-Jeje e a Casa de Nagô, embora tenha reconhecido vários terreiros antigos como dela oriundos, não preparou ninguém para abrir terreiro (fala-se que algumas vodunsis foram autorizada, por sua entidade espiritual, a abrir terreiro e que depois da casa aberta tiveram acompanhamento de sua mãede- santo durante dois anos).O empenho da Casa das Minas e da Casa de Nagô para impedir a multiplicação de terreiros de Mina justifica a suspensão ali de iniciações completas desde 1914, e a falta de ligação direta de outros terreiros com elas.

Os pais-de-santo que preparam hoje pessoas para abrir ou comandar terreiro foram iniciados em casas extintas e/ou completaram sua iniciação fora do Estado e fora da Mina.
No Tambor de Mina são cultuados voduns e orixás (africanos), gentis (nobres associados a orixás ou entidades africanas com nomes brasileiros) e caboclos (entidades surgidas nos terreiros brasileiros). Essas entidades são organizadas em nações e em famílias, e possuem diferenças de idade bem marcadas. Mas, embora as mais velhas sejam mais prestigiadas, as mais novas (às vezes crianças) podem ser também “donas da cabeça” e podem ser recebidas em todos os toques, como: os gêmeos Tossá e Tossé e a princesa Sepazim, da família real do Dahomé (recebidos na Casa das Minas-Jeje); e Menino Da Lera (da família do Rei da Turquia).
Na Mina as entidades masculinas e adultas são mais numerosas e vêm nos toques com maior freqüência. Os caboclos, geralmente, só são “donos da cabeça” quando o médium não (2) Sobre a Casa das Minas existem dois livros muito importantes e conhecidos: o de NUNES PEREIRA (1ª edição de 1947) e o de Sergio FERRETTI (1ª edição de 1985). Não existe ainda nenhum trabalho exaustivo sobre a Casa de Nagô,embora muitos pesquisadores tenham dedicado a ela várias páginas em suas obras. Sobre Codó existe uma tese de pós-graduação defendida em 1945, nos Estados Unidos, por COSTA EDUARDO (1954), não traduzida para o português.
Existe uma literatura razoável sobre a Casa Fanti-Ashanti (de pesquisador e do pai-de-santo), aberta em 1958 e introdutora do Candomblé no Maranhão (BARRETTO, 1977; FERREIRA, 1984; 1987; FERRETTI, M, 1991; 1993). Merece ainda destaque um livro de Maria do Rosário SANTOS (1989) que trata também do Terreiro da Turquia, Terreiro de Iemanjá e Terreiro Fé em Deus.
(3) Existem no Estado pelo menos três Federações de Umbanda: a Federação de Umbanda e Cultos Afro-Brasileiros do Maranhão, de 1962, (fundada por José Cupertino de Araújo); o Tribunal de Ogum, fundado por Ribamar Castro (ligado a Jamil Rachid, em São Paulo); e uma Federação comandada pelo pai-de-santo Sebastião do Coroado. No interior, a Federação de Umbanda do Piauí é também muito atuante.4 recebe vodum ou gentil, no entanto, na maioria dos terreiros, costumam ser recebidos com maior freqüência e permanecer em terra por mais tempo. No Maranhão, os terreiros de Mina abertos por africanos são chefiados espiritualmente por vodum ou orixá (Zomadonu e Xangô), mas a chefia de entidade cabocla é bem antiga nos terreiros de São Luís e parece ter começado com o Terreiro da Turquia (que, segundo seu atual dirigente, é de 1989).
Embora haja uma certa uniformidade na representação das entidades espirituais, a nação, a família e a idade de uma entidade pode variar de um terreiro para outro, uma vez que se apoiam em relações múltiplas muito complexas. Na Mina maranhense, o vodum Averequete é nagô assentado no jeje; a cabocla Jarina é turca mas pode vir na família do Rei Sebastião; Legua-Boji é vodum cambinda mas é chefe de uma linha de caboclo e pode vir bem velho ou ainda moço.
A religião afro-brasileira no Maranhão, em suas diversas denominações é bastante ligada ao catolicismo. Alem dos terreiros realizarem festas e rituais do catolicismo popular, como a Festa do Espírito Santo, Queimação de Palhinhas do Presépio, Batismo (na igreja ou no terreiro, com água benta), alguns ritos católicos são indispensáveis nas festas de voduns e encantados, como: missa, procissão e ladainha (em latim).
As festas de voduns e encantados costumam ser também animadas por brincadeiras do folclore como: Tambor de Crioula, na do vodum Averequete e do caboclo Jariodama (da família da Turquia); Bumba-Boi, na do vodum-cambinda Légua Boji-Buá e do caboclo Corre-Beirada (filho de Dom Luiz Rei de França)
(4). Na Mina as festas são muito freqüentes, acompanham o calendário santoral católico e costumam incluir três noites de toque. Em algumas datas do ano quase todos os terreiros fazem toques (20/1 - São Sebastião; Sábado de Aleluia; 2º domingo de Agosto - Averequete;4/12 - Santa Bárbara). Em varias outras datas muitos terreiros tocam uma ou três noites (24/6 - São João; 29/6 - São Pedro; 26/7 - Santana; 28/9 - São Miguel; 8/12 - N.Sra. da Conceição; 13/12 - Santa Luzia). Existem algumas datas festejadas em uma ou em poucas casas, mas no Maranhão, só não se faz toque na Quaresma (período do calendário cristão).
Embora, excetuando-se a Casa das Minas-Jeje, os médiuns no Maranhão recebam mais de uma entidade espiritual, na Mina geralmente se dança, à noite toda, com a mesma entidade (com a dona da cabeça, seu senhor ou senhora, ou com seu guia -caboclo chefe). Nos terreiros onde os médiuns têm muitas entidades de categorias diferentes, costuma ocorrer toques em homenagem a determinadas categorias de entidades, com estrutura idêntica ao usual (como a Festa das Moças, do Terreiro Fé em Deus), ou com estrutura diferente (como a Bancada, realizada com entidades femininas). Alguns terreiros realizam também para determinadas categorias de entidades toques especiais como: o Tambor de Borá (para índios, precedido, geralmente, por acampamento “na mata”) e o Tambor de Fulupa (com “cama de espinhos” para os encantados), ambos realizados em São Luís, no Terreiro Fé em Deus. A Casa Fanti-Ashanti realiza também uma festa para entidades femininas ligadas à Cura/Pajelança, no dia de Santa Luzia (13/12),denominada Baião, que, apesar da incorporação das entidades femininas, lembra os Bailes de São Gonçalo, do catolicismo popular. E, embora os Pretos-Velhos sejam mais cultuados em terreiros de Umbanda, algumas casas de Mina, como o Terreiro de Iemanjá de Pai Jorge Itaci,realizam, no dia 13/5 (dia da abolição da escravatura no Brasil),.um toques e um Tambor de Crioula em homenagem às entidades velhas da Mina: Mãe Maria, Pai José, Camundá de Holanda.
Na Mina não há festa para Exu e incorporação de Pombagiras. Nos terreiros mais antigos, como mostrou Sergio FERRETTI (1985), Legba é saudado com respeito, de forma (4) Essa ligação da religião afro-maranhense com o folclore foi mostrada por Sergio FERRETTI no vídeo: Religião e cultura popular (1996) e é tema de sua pesquisa iniciada em 1992. 5 discreta, “para que não perturbe os trabalhos”. Outras entidades assumem seu papel tradicional nas religiões africanas. Na Mina-Jeje, os toqüenos (voduns jovens) da família de Queviosô falam pelos mais velhos (que são mudos na Casa das Minas).
No Maranhão, a entidade espiritual que “abre as portas” para caboclo é Averequete, “vodum nagô assentado no jeje”, como costuma falar Dona Celeste, uma das vodunsis mais conhecidas da Casa das Minas-Jeje. É saudado na abertura do Tambor da Mata e, na Mina-Nagô, quando “o tambor vira prá mata” - quando se faz um corte no toque de Mina para homenagear os caboclos e, geralmente, nos terreiros de caboclo, os voduns dão passagem a eles. Depois que o “tambor vira prá mata” passa-se a cantar em português e os caboclos podem expressar suas características próprias com maior liberdade, principalmente onde os voduns “sobem” antes do encerramento do toque, e eles passam a tomar conta do barracão.
Nesse contexto costumam usar lenços coloridos, bradar, dar rodadas, sair do salão para fumar e, em algumas casas, para beber, e passam a cumprimentar a assistência de modo mais afetuoso e menos formal do que o dos voduns e gentis. Algumas entidades caboclas da Mina possuem características semelhantes as de Exu e Pombagira. Alguns caboclos são vistos como fortes mas perigosos e vingativos; fazem uso de bebida alcoólica, de palavras e gestos chistosos e meio obscenos (como os turcos, a família de Legua-Boji e os surrupiras). Mas essas características são reprimidas na maioria dos terreiros mais tradicionalistas.
Os terreiros de Mina, geralmente, não fazem iniciação completa de muitas pessoas e não anunciam, aos “de fora”, quem tem maior fundamento. As vodunsis da Casa das Minas que não moram no terreiro, embora possam fazer pedidos aos voduns em suas casas, precisam ir ao terreiro até para acender uma vela e, se recebem em casa a visita do seu vodum, este têm que ir ao “come/peji” (no terreiro) antes de “subir”.

Na Mina tradicional, geralmente, a comida oferecida aos voduns fica algumas horas no quarto de santo e depois é consumida pelas pessoas no terreiro. Na Mina-Jeje a obrigação é servida em pequenas tigelas preparadas no “come”. Só na de Acossi (realizada em janeiro, no dia de São Sebastião) e no “arrambã” ou bancada (realizado na 4ª feira de cinzas), é que a comida de obrigação é dividida “pelos voduns” na sala ou no barracão. Na Mina-Jeje, os pertences dos voduns (roupas, colares, leque, cachimbo, bengala, chicote, etc.) devem ficar na casa e, após a morte das vodunsis, podem ser usados por ele, quando incorporados em outra pessoa.
Na Mina tradicional a clientela dos “mineiros” é, geralmente, vinculada a eles por parentesco biológico ou ritual e a clientela dos encantados é constituída de pessoas que têm ligação com eles, com o pessoal do terreiro e com a religião. Só as pessoas “mais ligadas” ficam na Casa das Minas ou na Casa de Nagô para falar com os vuduns e só estas procuram as vodunsis depois do toque para receber delas um banho, passe ou benzimento. Os terreiros mais antigos têm suas portas sempre abertas mas neles não há horário para consulta e nada do que é feito ali em benefício de alguém é cobrado ou tem preço estipulado.
Nos terreiros de Mina mais antigos não se joga búzio. Na Casa das Minas não se costuma dizer a que entidade espiritual uma pessoa pertence, fala-se que é o próprio vodum que deve revelar a ela a sua escolha e a missão dela decorrente. As pessoas “de fora” que começam a freqüentar aquela casa, geralmente, tem alguma amizade com uma vodunsi ou simpatia por um vodum e essa relação é interpretada como uma ligação com o vodum, até “prova em contrário”. Todos que estabelecem esse tipo de relação passam a colaborar com a casa. Os mais ligados são integrados a ela como “assissis” de um determinado vodum e, “quando chega a hora” recebem uma “guia” (colar de proteção). São essas pessoas que, em caso de necessidade, levam um pacote de velas para serem acesas no come/peji, pela vodunsi 6 que está no comando da casa, e que recebem uma tigelinha de comida de obrigação e uma garrafa de banho quando essa é encerrada(5).

ENTIDADES ESPIRITUAIS CABOCLAS DO TAMBOR DE MINA
Na Mina as distinções entre voduns, gentis e caboclos interessa mais a antropólogos do que aos médiuns e pais-de-santo. De modo geral, o termo vodum é usado para designar as entidades da encantaria africana (jeje, como Dossu, nagô, como Xangô, cambinda, como Vandereji) e, às vezes, de forma genérica, para designar as entidades mais antigas e prestigiadas recebidas no Tambor de Mina.
O termo gentil designa encantados da nobreza européia, geralmente cristã, associados a orixás e, às vezes também, a santos católicos. Esses encantados são também classificados como nagô-gentil ou como vodum-cambinda. Entre eles merecem destaque: Rei Sebastião,associado a Xapanã e a São Sebastião; Rainha Dina, associada a Iansã; Rainha Rosa, associada a Santa Rosa de Lima e a Oxum; Dom Luiz, Rei de França, associado a Xangô e a São Luís (Luiz IX).
No Maranhão, o termo caboclo designa entidades distintas dos voduns africanos e dos gentis, mas, difíceis de serem definidas e caracterizadas. De modo geral os caboclos são:
1) encantados que tiveram vida terrena mas não podem ser confundidos com espíritos de mortos (eguns), do astral, e alguns deles pertencem a categorias não humanas como os botos e surrupiras;
2) são associados às águas salgadas, como os turcos; à mata, como a família de Légua-Boji; à água doce, como Corre-Beirada (oriundo da Cura/ Pajelança);
3) pertencem à encantaria brasileira mas podem ser originários de outros países (França, Turquia);
4) têm ligação com grupos indígenas mas podem ser nobres que preferiram ficar fora dos castelos;
5) são recebidos freqüentemente, mas nem sempre na qualidade de “donos da cabeça”;
6) são homenageados, geralmente, no final ou no último dia do toque mas podem ser recebidos em rituais onde há voduns.
 
Na Mina, falar em caboclo é falar em Mina-Nagô ou em Mina cruzada com Mata, Cura/Pajelança ou Umbanda, já que na Casa das Minas-Jeje não se entra em transe com ele.
Na Casa de Nagô o caboclo é muito antigo e integrado com voduns e gentis. Fala-se que no passado eles eram ali recebidos em todas as festas mas em noite reservada a eles. Hoje dançam na roda dos voduns e gentis e só as pessoas que conhecem bem a casa e as vodunsis podem identificar quem está com, gentil ou caboclo.
Alem de toques para voduns (e orixás), gentis e caboclos, os terreiros de Mina realizam também rituais onde ocorre transe com índios, surrupiras, botos, fulupa ou com outros encantados que só podem participar dos toques de Mina se “vierem como caboclos” (civilizados ou humanizados). Como as entidades indígenas são mais amplamente conhecidas na religião afro-brasileira e temos informações mais completas e sistematizadas sobre elas do que sobre as outras, vamos tratar agora um pouco sobre a relação dos caboclos com elas.
(5) Na Mina do Maranhão, só os pais-de-santo que começaram como curadores/pajés, como terecozeiros, ou que se ligaram à Umbanda, Quimbanda ou Candomblé são procurados por maior número de clientes e só em salão de curador se pode encontrar movimento de pessoas durante os toques para consultar um guia espiritual.

Índios e caboclos na Mina e na Umbanda maranhense:




 Como já esclarecemos, na Mina do Maranhão, os caboclos nem sempre têm origem indígena e os que têm não se manifestam de modo selvagem nos toques de Mina. Há uma tendência nos terreiros maranhenses para distinguir índio (selvagem, que usa arco, flecha e vestimenta de pena), caboclo de pena (índio aculturado) e caboclo (não índio, às vezes turcos ou descendentes de nobres europeus).
Em terreiros de Mina a exibição de características selvagens, o usos de arco, flecha e de vestimenta indígena por médium incorporado, geralmente, só aparece em rituais destinados exclusivamente a entidades indígenas (como o Tambor de Índio, Borá ou Canjerê, realizado com uma estrutura diversa do toque de Mina), no Brinquedo de Cura (Pajelança) ou na Gira de Umbanda, quando ha incorporação com entidade indígena.
É preciso lembrar que as entidades espirituais na Mina não usam paramentos muito elaborados. Os mineiros costumam dançar “fardados” - todos de calça ou blusa branca e saia ou camisa da mesma cor (branca, vermelha, verde, amarela, azul, rosa, estampada). Na Mina- Jeje os voduns mais velhos costumam usar no ombro esquerdo um lenço dobrado do mesmo tecido da saia, e alguns usam bengala (como Lepon) ou chicote na mão (como Dossu). Fala-se do uso, no passado, de chapéu de feltro, por vodum da Casa das Minas-Jeje. Na casa de Nagô,pelo menos atualmente, os voduns não usam paramentos (nem os nagô, como Xapanã, nem os cambinda, como Pedro Angassu, e nem os jeje, Bossa).
No terreiro da Turquia, chefiado pela entidade conhecida por Rei da Turquia, as entidades espirituais fazem uso de grandes lenços de seda coloridos, dobrados em diagonal e amarrados na cintura (como Rei da Turquia), no pescoço (como Jaguarema), ou enrolados na mão (como Mensageiro de Roma). Essa prática é também adotada pelos turcos em outros terreiros de caboclos (ou “bêta”, como são denominados na Casa das Minas-Jeje).
Atualmente, em terreiros que se definem como Mata ou que têm linha de Codó, como o de Jorge Itaci, alguns encantados costumam usar chapéu de couro ou de palha,principalmente, em toque realizado para a família de Légua-Boji (vaqueiro) ou em homenagem a algum caboclo importante na casa (por exemplo, no aniversário do guia-chefe do pai-de-santo ou mãe-de-santo)
O chapéu de couro é também usado no Samba Angola (Candomblé de Caboclo) e na Umbanda Omolocô por médiuns incorporados com boiadeiros.
 Em alguns terreiros, como na Casa de Nagô, não é fácil diferençar voduns, gentis e caboclos. Na Mina todos são organizados em famílias, tem mitologia e identidade, falam,cumprimentam a assistência, podem dar um passe, benzer ou usar sua energia (vibração) para curar uma pessoa da casa ou um freqüentador do terreiro (embora não dêem consulta). Mas, existe uma coisa que os distingue claramente das outras entidades espirituais: as doutrinas (pontos cantados) de caboclo são em português. Podem ter algumas palavras africanas mas suas letras podem ser compreendidas pela assistência e repetidas pelos filhos-de-santo quando falam dos ensinamentos e mistérios de sua religião.
Alguns caboclos da Mina são, às vezes, também recebidos na Cura/Pajelança ou em rituais de outras tradições religiosas afro-brasileiras, como a Umbanda e o Candomblé de Caboclo. Quando isso acontece, é comum o uso de nomes ou de repertórios musicais diferentes. Mas é preciso lembrar que nem sempre caboclos da Mina que têm nomes conhecidos em outras manifestações religiosas afro-brasileiras podem ser considerados a mesma entidade espiritual. Embora haja migração de caboclos de uma linha para outra (como é o caso de Jurema) e, talvez, de Bartira), muitos caboclos da Mina que têm nomes (6) Geralmente nestes rituais são tocados, além dos dois abatas da Mina-Nagô (tambores de duas membranas,suspenso por cavaletes e percutidos com a mão), o tambor da mata (instrumento típico e tradicional de Codó, de uma só membrana, tocado com um dos lados apoiados em forquilha e outro tocando o solo. Esse tambor tem forma e tamanho semelhante a do tambor grande da Mina-Jeje, mas é tocado com as duas mãos, inclinado para a frente. 8 conhecidos na Umbanda parecem não serem a entidade de mesmo nome recebida na Umbanda. Entre esses podem ser citados: Tabajara, Ubirajara e Tapindaré, da família do Rei da Turquia.
Uma grande diferença entre a Mina e a Umbanda em relação ao caboclo reside na freqüência em que ele é representado como índio e o uso de imagens (estátuas) para representá-lo. Nos terreiros de Mina mais antigos ou presos ao modelo da Casa das Minas e da Casa de Nagô, só os santos têm estátuas. As entidades espirituais são identificadas por guias (colares de contas) e estes, representam mais a sua família do que cada entidade individualmente. O uso de pontos riscados parece não ser também tradicional na Mina. Sua utilização nos terreiros de caboclos parece ser conseqüência de seu contato com a Umbanda.

No Maranhão o culto ao caboclo é amplamente desenvolvido e só não é encontrado na Mina-Jeje. Embora cada denominação religiosa afro-brasileira tenha suas entidades caboclas estas podem ser também encontradas em rituais que não pertencem a sua origem, uma vez que a maioria dos terreiros têm mais de uma “linha” (Mina, Cura, Mata, Umbanda,Candomblé) e os médiuns, geralmente, têm ligação com mais de uma delas.
No Tambor de Mina existe uma separação maior entre caboclo e índio do que entre caboclo e vodum. Além do vodum Averequete abrir as portas para caboclo na Mina-Nagô e na Mata de Codó, geralmente, os chefes das grandes famílias de caboclo da Mina têm parentesco ritual com voduns. No Terreiro da Turquia, Averequete é padrinho de muitos encantados e, no tempo da fundadora daquele terreiro, Rei da Turquia dançava com uma “guia” dada a ela por Polibiji.
No Maranhão, tal como os voduns, o caboclo tem identidade própria, família, mitologia e simbologia complexa. Na Casa de Nagô e nos demais terreiros que têm caboclos eles podem ser recebidos junto com os voduns, nos mesmos rituais, e têm um comportamento muito semelhante ao deles. Mas, algumas entidades, como Legua-Boji-Buá, são tão próximos aos voduns e aos caboclos que chegam a ser classificadas por uns como vodum cambinda e por outros como caboclo (príncipe guerreiro, chefe da Mata de Codó, filho de Dom Pedro Angassu e Rainha Rosa)

Embora as entidades espirituais os caboclas no Maranhão tenham sempre alguma ligação com o índio (população nativa do Brasil), só alguns são representados como tendo origem indígena. Na Mina o conceito de caboclo depende mais de seu surgimento no Brasil, como entidade espiritual, e de sua posição na cabeça do filho-de-santo do que de suas características étnicas.

Mundicarmo Ferretti
Publicado no Jornal do CEUCAB-RS: O Triangulo
Sagrado, Ano III, n. 39 (1996), 40 e 41 (1997).

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

ANDANÇAS DE UM PRETO VELHO



Certa vez em uma das andanças desse nego véio pelos terreiros que trabalham com a Bandeira de Pai Oxalá, fiquei a observar os movimentos dos filhos de fé antes do início dos trabalhos. Uns se lembravam de problemas não resolvidos com os familiares, outros não esqueciam aquele desaforo ouvido quando caminhavam para o terreiro e por pouco não revidaram a ofensa, outros ainda arquitetavam na mente como se defender de provável comentário malicioso que talvez aquele irmão de fé tenha para com ele. Ainda outros fazem suas obrigações não por amor, mas para mostrar (véio não sabe a quem) que é o melhor, o mais dedicado e o que merece boas recompensas. Outros sorriem forçosamente enquanto o coração destila fel. Em uma pequena roda de irmãos, véio ficou de boca aberta com os comentários: falava-se de todos, menos dos que estavam na roda, é claro. E em outra roda, véio ficou mais perplexo ainda: não se falava diretamente dos irmãos, mas dava-se uma pitadinha de sal com pimenta do reino que exalava no ar: "-é alguém daqui... mas, quem???", e todos se entreolhavam, num mistério profundo... Cada irmão que passava o pensamento fluía: "será este, ou aquele???" 

E assim, tristemente, véio presenciou a formação de uma névoa escura que envolvia muitos filhos, que não sabiam porquê, na hora da gira, estavam sentindo-se mal, ou porquê não sentia a vibração do seu guia, ou pior, porque está sendo vítima de uma obsessão... Esta última é palavra da moda, muitas vezes usada para disfarçar os próprios "dragões" interiores! 

Numa corrida quase mágica, os trabalhadores do astral trabalhavam para amenizar aquela corrente negativa que se formara, isola-se um, esforça-se para vibrar pelo menos próximo do outro, faz-se o socorro aqueles irmãos que foram atraídos pela vibração de desarmonia, compartilha a prece sincera emanada de poucos e, assim, há muito custo a luz se faz! 

Afinal, muitos dos que buscam ali consolo e renovação merecem ser protegidos dos irmãos invigilantes, e serem atendidos de forma harmoniosa, de acordo com o merecimento de cada um. 

Quero pedir, humildemente, que os filhos de fé nos ajudem a ajudar quem precisa, se a semente plantada da Umbanda ainda não germinou em seu coração, não desanime, faça um pequeno esforço para deixar os problemas lá fora do terreiro, vibre positivo para todos a sua volta, não se preocupe com o reconhecimento de suas atitudes, porque quando sua recompensa chegar, ela nem será percebida como tal. Que o branco vestido com orgulho e dedicação represente a paz do seu coração, para realmente "refletir a Luz Divina" entoada no Sagrado Hino da Umbanda. 

E com as bênçãos de Pai Oxalá cresçamos unidos, porque a fé, o amor e a caridade está ao alcance de todos. 
Obrigado a quem dedicou atenção ao apelo desse nego véio, e por Jesus Cristo, véio ama muito todos vocês. 

Recebido espiritualmente por Ednay Melo. 
Paz e Luz! 

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Ensinamentos de Uma Preta Velha




02/08/2011

Hoje estou tentando entender, o significado da comunicação que tive de Vovó Maria Conga, onde ela me disse "comprometimento com a Umbanda meu filho", e depois "cuidado com a Umbanda meu filho", agora estou compreendendo, que cuidado é no sentido de zelar, respeitar, e comprometimento é no sentido, de de aprender, estudar de viver a Umbanda em sua essência, que a do auto conhecimento de um ser que precisa espiritualizar-se, cada vez mais. O nosso crescimento, esta vinculado aos conhecimentos trazidos por estes amigos, que vem nos auxiliar em nossa caminhada. Não há como negar que tanto Cláudio(um espirito amigo) e com o Índio(entidade da Umbanda) que ainda não sei o nome, vem transformando minha maneira de encarar a vida. De poder ter a chance de rever tudo aquilo que pratiquei seja de uma ótica positiva ou negativa, mas tem ligação direta de como vou caminhar daqui pra frente. Como já falei outras vezes não vou ficar me confessando, as coisas que vivenciei só dizem respeito a mim mesmo, pois sei exatamente onde falhei. E meus amigos espirituais todos sabem pois me acompanham desde a infância. E eu tolo, de pensar que depois dos trinta anos foi que começou minha caminhada rumo a espiritualização de minha alma, sim como ser encarnado. Agora, tentando usar mais a razão para desenvolver a espiritualidade, tenho recordado de muitos fatos que demonstram que de muito tempo já tenho contato com a mediunidade. E também certo de que de uma forma ou outra, o povo que não quer a evolução do espírito humano tentou me impedir, de me esclarecer realmente o que significa, espiritualizar-se, sem se apegar a uma religião, mais sim a fundamentos, conceitos, filosofia de vida, e descobri uma Umbanda, que até então me era apresentada de uma forma bem diferente da que reconheci em mim. Tenho vivido uma transformção diária. Claro que temos que ter a consciência de uma evolução constante, pois o convívio diário, com tudo que nos rodeia, e um exercício árduo. O enfrentamento do transito, com a premissa que cada um tem que chegar primeiro em seu local de destino, as pessoas com quem convivemos, seja no seio familiar, ou no convívio social e de trabalho, seja la no centro Umbandista que frequentamos, ou qualquer outro local onde exercemos, nossa espiritualidade. Temos que ter a humildade de nossas limitações, e não bancarmos os perfeitinhos, apenas na frente das pessoas. Porque, sabemos perfeitamente que varias vezes nos descontrolamos, gritamos, xingamos, não aceitamos o que o outro diz, mandamos para bem longe, o cara que nos da fechada no transito. Ai pensamos ninguém houve. Ai que nos enganamos, ao ouvidos e olhos do Pai nada passa despercebidos. O que quero dizer com isso é que devemos sermos sinceros primeiro com nós mesmos antes de sermos com os outros. Por isso Vovó disse cuidado com a Umbanda. Porque a Umbanda, da Caridade e da Verdade, não deixa brecha para enganações. E pode estar certo que o único prejudicado vai ser você mesmo.

Alex Sander Santos

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O AMOR SEMPRE VENCE






Eu que já andei pelos vales da morte, que igual a você já ocupei vários corpos físicos, confesso que o amor sempre vence. E quando digo amor, falo no amor verdadeiro, aquele que não se influencia por coisas tolas e que não se escraviza frente as nossas deficiências ligadas as paixões.

Falo do amor que nutre e fortalece, o que vence demandas apenas pela presença em nossos corações. Observe o planeta, veja a quantidade de ilusões e credos dispensáveis por que passa o gênero humano. Somos tratados em blocos, como se fossemos um produto técnico e mensurável.

Somos humanos e isto basta. A ciência humana vive de possibilidades e experiências, nada é real, mesmo porque a duração de uma realidade tem sempre um ponto final. Vejamos a vida que é um bem preciso, da qual não temos nenhum controle ou mando capaz de limitá-la. Nossa experiência de vida é controlada por forças muito superiores a nossa vontade, mesmo que atentemos contra a nossa existência e a dos outros, existe um planejamento que foge a nossa atual compreensão de que ela é um bem que aparentemente é real, mas não nos pertence.

Imaginemos agora todas as coisas que existem sobre a crosta terrestre, todos os seres, objetos, entes pensamentos e manifestações, eles também não nos pertencem, parece que nos são emprestados por algo ou alguém que é o dono real destas coisas. Este desconhecido é o que nos faz ver através das repetições reencarnatórias, que a força e a ignorância não tem peso eficaz no controle de todos estes bens.

Agora imagine sua vida, após esta pequena reflexão, responda para si mesmo do que você é dono realmente? Quais são as coisas que você tem poder sobre elas? O que é real? Se sua resposta foi "nada", você acabou de encontrar Deus, a soma infinita do que aparentemente existe e que só pertence a ele, inclusive todos nós.

Deus no nosso pensar é esta soma de todas as consciências, ele não se manifesta se você não o permite manifestar, tudo isso dentro do seu próprio organismo, pois ele é o dono de tudo que existe dentro deste corpo físico que você arrasta por este lindo planeta.

Agora façamos uma reflexão final: Devo usar de outra força que não seja o amor para conservar e manter todos os laços de existência que equilibram este universo?



Não perca a esperança, logo este planeta será habitado por todos aqueles que vibram no bem, pois o homem vai se cansar de buscar o mal que nunca existiu.



 o amor verdadeiro sempre vence

domingo, 23 de outubro de 2011

Mitologia e rituais



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Os Guarani contam que o processo de criação do mundo teve início com Ñane Ramõi Jusu Papa ou “Nosso Grande Avô Eterno”, que se constituiu a si próprio do Jasuka, uma substância originária, vital e com qualidades criadoras. Foi quem criou os outros seres divinos e sua esposa, Ñande Jari ou “Nossa Avó”, foi alçada do centro de seu jeguaka (espécie de diadema que perpassa, como ornamento, testa e cabeça), o adorno ritual. Criou também a terra que então tinha o formato de uma rodela, estendendo-a até a forma atual; levantou também o céu e as matas. Viveu sobre a terra por pouco tempo, antes que fosse ocupada pelos homens, deixando-a, sem morrer, por um desentendimento com a mulher. Tomado de profunda raiva causada por ciúmes, quase chegou a destruir sua própria criação que foi a terra, sendo impedido, contudo, por Ñande Jari com a entoação do primeiro canto sagrado realizado sobre a terra, tomando como acompanhamento o takuapu: instrumento feminino, feito de taquara, com aproximadamente 1,10m, que é golpeado no solo produzindo um som surdo que acompanha os Mbaraka masculinos, espécie de chocalho de cabaça e sementes específicas.
O filho de Ñane Ramõi, isto é, Ñande Ru Paven (“Nosso Pai de Todos”) e sua esposa Ñande Sy (“Nossa Mãe”), ficaram responsáveis pela divisão política da terra e o assentamento dos diferentes povos em seus respectivos territórios, criando montanhas para delimitar o território guarani. Ñande Ru Paven roubou o fogo dos corvos e o entregou aos homens; criou a flauta sagrada (mimby apyka) e o tabaco (petÿ) para os rituais e foi o primeiro que morreu na terra. Da mesma forma que seu pai, decidiu abandonar a terra em função de um desentendimento com sua esposa que estava grávida de gêmeos. O mito dos gêmeos é um dos mais contados e difundidos pela América do Sul. Pa’i Kuara é neto de Ñane Ramõi. A ele, depois de muitas aventuras na terra, foi atribuída a responsabilidade de cuidar do Sol, assim como de seu irmão, Jacy, a quem caberia o cuidado da Lua.
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Assim, Ñande Sy saiu em busca de seu marido e com freqüência perguntava ao filho, que ainda não havia nascido, qual o caminho a ser seguido. Pa’i Kuara chegou a indicar caminho errado para sua mãe que lhe havia negado uma flor que queria para brincar durante o percurso. Ñande Sy chegou à morada dos Jaguarete ou “os verdadeiramente selvagens” (que são as onças). O avô destes seres ferozes tentou em vão salvar a vida da mulher. Seus filhos, ao voltarem famintos pelo fracasso da caça, mataram Ñande Sy, deixando vivos apenas os pequenos gêmeos. Estes, depois de grandes, encontraram com o “papagaio do bom falar” (parakau ñe’ëngatu) que lhes contou da morte da mãe. Resolveram vingá-la. Pa’i Kuara e seu irmão menor Jasyprepararam armadilha na qual morreram todos os jaguarete, menos uma que estava grávida, razão pela qual os jaguarete (onças) permaneceram no mundo.
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Pa'i Kuara e Jasy viveram inúmeras aventuras sobre a terra até que o primeiro decidiu ir para os céus à procura de seu pai. Sua preparação para isto consistiu em jejuar, dançar e rezar até sentir-se suficientemente leve de modo a poder subir.  Lançou então uma seqüência de flechas, umas sobre as outras, até construir um caminho que o levou aos céus, onde entrou através da abertura feita por suas flechas. Seu pai Ñande Ru Pavë o reconheceu como filho autêntico, entregando-lhe o Sol para que dele cuidar.
Os Paï se consideram descendentes diretos, como netos, de Pa’i Kuara, o ser divino mais referido em seus mitos e a quem recorrem mais sistematicamente em momentos de penúria ou doença.
Fora da mitologia clássica e considerando a criação do mundo até a chegada de Pa’i Kuara ao céu, os Guarani possuem um número interminável de contos e mitos cujos heróis são animais. Criaram também uma mitologia onde são narrados acontecimentos identificáveis nos últimos 200 anos.  Os mitos de Kasíke Guaira e Kasíke Paragua, por exemplo, narram interpretações de conflitos e guerras com brasileiros e paraguaios ocupantes de seus territórios.
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Outros personagens divinos importantes são os quatro “cuidadores das almas dos homens”, localizados em um dos sete céus e nas quatro direções; há ainda seres que cuidam das águas, dos animais, das plantas e outros, cabendo destaque a Jakaira, responsável pela fertilidade das roças.

Rituais

São assíduas e freqüentes as atividades religiosas guarani, com práticas de cânticos, rezas e danças que, dependendo da localidade, da situação ou das circunstâncias, são realizados cotidianamente, iniciando-se ao cair da noite e prolongando-se por várias horas. Os rituais são conduzidos pelos ñanderu que são líderes e orientadores religiosos; contemplam necessidades corriqueiras como colheita da roça, ausência ou excesso de chuva.
Entre os kaiowa, duas cerimônias têm destaque: a do avati kyry (milho novo, verde) e do mitã pepy ou kunumi pepy (realizada em várias comunidades no Paraguai; no Brasil apenas uma comunidade a mantém). A primeira é celebrada em época de plantas novas (fevereiro, março) e tem no avati morotĩ (milho branco), planta sagrada que rege seu calendário agrícola e religioso, a referência principal. Semanas de trabalho e envolvimento de muitas famílias para preparar o kãguy ou chicha e o lugar da cerimônia, antecedem sua realização. O kãguy é uma bebida fermentada, feita, nestas cerimônias, com o milho branco (mas também de mandioca, batata doce ou cana de açúcar) e preparada pelas mulheres.
A cerimônia em si, dirigida por um líder religioso, tem início ao cair do sol e finda na aurora do dia seguinte. Este xamã deve conhecer o mborahéi puku ou “canto comprido”, cujos versos, que não se repetem, não podem ser interrompidos depois de iniciada a cerimônia. A cada verso entoado pelo ñanderu a comunidade o repete, sempre acompanhados pelos mbaraka confeccionado e usado por homens e os takuapu usados por mulheres. Ao amanhecer, terminado o mborahéi puku (canto comprido), há o batismo da colheita (mandioca, cana, abóbora, batata doce, milho etc.), que permaneceu depositada no altar. Na noite seguinte a cerimônia do avati kyry continua com cantos e danças mais profanos, os kotyhu e os guahu, por toda a comunidade e por muitas visitas que participam da cerimônia.
Além desses rituais, há ainda as cerimônias do mitãmongarai, ocasião em que sacerdotes reúnem crianças para o batismo, quando recebem o tera ka’aguy (nome de mato) ou nome guarani.
Fonte:socioambiental.org

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