A Escalada da Espiritualidade

Alcançar o convívio com o Espírito é um privilégio concedido a poucas pessoas. Acontece que este convívio, sendo uma experiência extática, exige de nós algumas condições especiais, que infelizmente a maioria das pessoas não consegue alcançar, sejam porque não lhes é concedida a graça (o Espírito "sopra" onde quer), seja porque não conseguem desenvolver a ascese necessária àquela conquista.

O pressuposto é o de que a conquista do Espírito só se realiza a partir de um estado psíquico de serenidade, mas também de forte disposição interior, o que nos daria condições para ficarmos duplamente condicionados para que aquela ação se manifeste, refletida no desejo intenso de encontrar algo além das aparências materiais.

Há muitas vias conhecidas que podem nos conduzir no caminho da conquista interior (a percepção consciente de nossa espiritualidade), que permitem a elevação do meu eu natural até o EU SUPERIOR. Todos os grandes místicos e iniciados as percorreram, pela vontade e disciplina, mas principalmente pela mudança de suas concepções tradicionais a respeito de si e do mundo.

Assim, a conquista do Espírito se dará por meio de uma subida, uma escalada cujas etapas vamos agora discriminar:

1º degrau: a ultrapassagem dos sentidos. Convencer-se de que toda a realidade observável por nós é apenas uma forma de conhecimento, a identificação das coisas com a nossa mente, o que nos remete diretamente à intuição de que a origem de todos os fenômenos é uma Consciência Onisciente que é também vida, energia e transformação, através da qual tudo se relaciona e se integra.

2º degrau: a harmonia interior. O pretendente à conquista do Espírito deverá cultivar harmonicamente todas as suas potencialidades, de modo a evitar a sua dispersão. Interesses, relações pessoais, estudos, ética, deverão compor uma unidade de ação.

3º degrau: Disposição para servir: A ação do Espírito é puro dom e gratuidade. Assim, a transformação da vida numa forma desprendida de prestação de serviço ao semelhante é uma maneira excelente de afastar o egoísmo natural. Fica bem imitar o Espírito em sua liberalidade.

4º degrau: Viver com amor. O Espírito é manifestação pura de amor. Nós, pobres seres humanos, apenas sabemos prostituir e banalizar o amor. Aprender a amar de verdade, eis um dos maiores desafios para quem almeja conquistar o Espírito. O amor é um valor de doação.

5º degrau: Manter-se em atitude de oração. As práticas religiosas rotineiras não são suficientes para a conquista do Espírito. Torna-se necessário que aprendamos a orar dialogando diuturnamente com o Espírito Interior que habita nosso coração.

"A natureza da Realidade Una deve ser conhecida pela própria e clara percepção espiritual; não pode ser conhecida através de um homem letrado. De maneira semelhante, a forma da lua somente pode ser conhecida através de nossos próprios olhos. Como poderia ser conhecida através dos olhos dos outros?" (Upanichads).

Antônio Celso Mendes