Pela fé, somos levados a crer que, após a morte, habitaremos um lugar de ventura ou sofrimento, segundo as nossas boas ações praticadas nesta vida. Não obstante, esta perspectiva "ética" da vida não deve se sobrepor àquela outra, "estética" da existência, com fundamento no convívio da perfeição do Espírito.
Síntese entre o real e o simbólico, convivência mística com o divino, serenidade diante dos percalços da vida, o reino do espírito representa uma antecipação venturosa de como , ainda nesta vida, podemos conviver sob a inspiração "de um novo céu e uma nova terra".
É por isto que Cristo insiste em dizer, mediante parábolas, em muitos momentos do Evangelho, que o reino dos céus é como a descoberta de um tesouro, uma "nova atitude", insólita, diante dos fatos e dos acontecimentos. Como conseqüência, surge uma reação inspirada, uma hermenêutica simbólica das coisas e dos fatos:
1) Viver é participar de um momento extático da consciência do Espírito.
2) Tudo no Universo representa apenas uma orquestração de energia e matéria que se refaz a cada instante, como num permanente milagre.
3) Percebemos o tempo e o espaço como perspectivas virtuais, sem nenhuma realidade objetiva. São apenas pontos de referência "decantados".
4) Sendo real apenas o instante, é o presente que se torna importante; passado e futuro medem-se apenas pelas suas conseqüências.
5) Diante da variedade de versões para os fatos e os acontecimentos, só o edificante, o belo e o humano devem ser considerados.
6) Nada tem importância como fato isolado, mas apenas o que ele representa contextualmente.
7) Só o Espírito tem consistência, nada mais.
Como se percebe, nossa consciência, exigindo perfeição, só pode conviver com o simbólico, o onírico, o fantástico, o miraculoso. A tão sonhada perfeição não se contradiz à ética, mas apenas a aperfeiçoa, tornando-a um contributo valioso na perspectiva da felicidade humana.
Não há por que duvidar da existência do Espírito. Ele é o mais real de todos os objetos, pois é o único que torna possível o milagre da percepção, do conhecimento, da cultura, do bem e do belo. A presença do Espírito não se dá através da relação natural sujeito/objeto, mas resulta de uma experiência mística, uma prática interior que necessita desenvolver-se. As oportunidades que se nos oferecem para a prática do mal são os riscos que temos de correr em função de nossas condições e de nossa liberdade. O mal não está no Espírito, mas sim nas insuficiências humanas para diferenciá-lo do bem. Aqui repousam os mistérios de seu reino!
Antônio Celso Mendes
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