Umbanda é Ecologia.
Precisamos cada vez mais, lutar pela conscientização.
por Ceifa de Luz
Concordo que o Umbandista ou Candomblecista deve presentear aos orixás ou entidades com comidas, bebidas, panos, velas, cestos, frutas e outros... Porém, sou contrária à disposição das oferendas em qualquer lugar. Pensem irmãos, colocar vossas oferendas em cachoeiras utilizadas para banho ou ainda em cachoeiras inexploradas é uma forma de degradação ambiental. Afinal, o que importa ali são as essências retiradas das comidas e bebidas, e não os cacos de vidro que sobram e podem cortar os pés de uma pessoa; ou ainda os restos da comida, que permanecem depois que o Orixá absorve todo o axé daquela oferenda, e que podem atrair ratos para aquele ambiente. Outro perigo são os cacos de alguidar que ficam nestes locais. Estes acontecimentos fortalecem àqueles que não possuem compreensão e utilizam estas evidências para depreciar a imagem das religiões afro-brasileiras, entitulando os Umbandistas e Candomblecistas como os grandes poluidores do ambiente.
Porque não utilizar locais alugáveis, com tendas prontas, e todo um esquema adequado de local e limpeza pós-oferenda, se podemos assim utilizar uma expressão, para evitar deixar essa sujeira toda? É uma grande questão de consciência. Tudo nesta vida necessita de minucioso planejamento. Sair para despachar oferendas (vulgo "arriar despachos" para os leigos), não é diferente...
Portanto, na próxima vez que for deixar uma champagne para Iemanjá por exemplo, não é necessário deixar a garrafa de vidro. Despeje apenas o líquido no mar, adicionado de toda sua boa vontade e coração aberto em agraciá-la com aquele presente. Você vai se sentir leve, o Orixá aceitará o presente de bom grado, e o meio ambiente agradece...
Fonte:http://ceifadeluzespirita.blogspot.com
LIXO NO MAR, YEMANJÁ CHORA!
Estou esperando por meus filhos.
Já me preparo para recebê-los, pois muito em breve receberei a visita de todos.
Sabem, todos os anos eu tenho muito trabalho, pois tenho muito que limpar.
Todos os anos, eu recebo inúmeros filhos, fiéis, seguidores, adeptos, simpatizantes, etc. e, mesmo eu pedindo tanto, ainda há alguns entre eles que não entenderam e não entendem que não cabem em minha casa certos adereços.
Todos os anos quando é chegada a época da minha grande festa, procuro preparar a minha casa para que quando todos chegarem eu possa recebê-los em minhas areias claras que brilham ao bater do sol como se fosse um tapete de diamantes, eu limpo as minhas águas e deixo reservado sempre a melhor maré para o grande momento do banho de todos. Minhas águas, nossa como são lindas, limpas e transparentes, parecem espelhos, onde cada filho consegue ver seu próprio reflexo.
A festa é maravilhosa.
Eu vejo que todos me amam, que todos me adoram, que todos se sentem bem quando chegam até minhas águas que, na verdade, nada mais são do que extensões de meu manto. Eu cubro a todos que se banham em minhas ondas, eu lavo vosso corpo carnal e principalmente curo o vosso corpo espiritual das surras que tomastes durante todo o ano que passou.
Eu como mãe estou sempre aqui estendendo o meu manto em forma d’água para que possam se limpar, se curar, se revigorar e, principalmente, para que possam sentir o afago daquela que sempre lhes deu condições das melhores possíveis para que pudessem caminhar muitas vezes de preferência sem tropeçarem, mas se um dia isso aconteceu, acredite, foi o melhor que fiz para que não se machucassem tanto e que, mesmo assim, eu pudesse lhes curar quando viessem me ver, meus filhos.
Mas hoje é o meu dia de festa, hoje escutei muitos rumores, do céu, dos ventos, das chuvas, das matas, das pedreiras, das cachoeiras, do Sol, da Lua, de que receberei uma grande homenagem.
Apenas a presença de todos já é o suficiente, apenas a presença de meus filhos em minha casa já me deixa repleta de alegria, mas sei que como todo ano ficarei muito triste com a partida de todos quando a festa terminar, não apenas por vossa partida meus filhos, mas principalmente, porque a mamãe deixou a casa limpa, estendi meu manto claro e cristalino para que pudessem se banhar
Deixei a minha areia branca e brilhante para que se sentissem no conforto de vossas casas, mas em sua saída, deixastes algumas coisas que não me pertencem e que vou demorar mais de um ano para limpar, novamente, para todos.
Eu não me lembro de ter deixado em minhas areias limpas e claras estas garrafas de espumantes, nem mesmo estes restos de comida.
O que é isso “navegando” para dentro de meu ventre nas águas?
É um barco de isopor.
Seria lindo!
A mamãe iria adorar de coração, se não fizesse tanto mal aos seus amigos que moram dentro de mim (como as tartarugas que morrem ao comer um pedaço deste isopor por asfixia).
Tudo bem meus filhos, a mamãe entende que devem estar cansados e no ano que vem não mais trarão estes adereços, bem como não derramarão perfume de alfazema poluindo minhas águas e matando meus cardumes a beira mar e não arremessarão as rosas como dardos que perfuram meu manto ao invés de enfeitá-los.
Sei que próximo ano as rosas serão depositadas como se estendessem uma toalha de cetim sobre uma mesa de cristal e que com as pétalas dessas rosas enfeitarão minhas águas como uma grande cortina de seda. Sei que as visitas serão apenas com o coração cheio de alegrias e eu terei o prazer de recebê-los com os mesmos braços abertos, com o mesmo manto e com a mesma limpeza que sempre tenho feito por todos esses anos e perdoado, pois um dia entenderão que a mamãe, mesmo assim, lhes ama.
Eu sou a sua Divina e Sagrada Mãe Yemanjá,
àquela que gera tudo em sua vida,
só não consegui ainda gerar o respeito por minha casa,
ou será, que vocês esqueceram os bons modos que lhes ensinei?
Bom irmãos, em breve teremos a nossa festa de Yemanjá e acho que seria no mínimo interessante e de bom grado o respeito com as águas sagradas de nossa mãe, bem como com o vosso solo, vossa areia, pois quero continuar freqüentando, me banhando por muitos anos e sendo abençoado, por minha amada mãe Yemanjá.
Danilo Lopes Guedes - 25/10/2010 - Médium de Umbanda
Oferendas Afro-Religiosas e Educação Ambiental na Amazônia
Devison Amorim do Nascimento[i]
Licenciado Pleno em Ciências da Religião pela UEPA
Especialista em Docência da Educação Superior pela UEPA
Prof° de Ensino Religioso da Secretaria de Estado de Educação
O propósito deste artigo é de socializar uma pesquisa desenvolvida entre os meses de setembro de 2007 e outubro de 2008, financiada pelo Programa de Iniciação Científica da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade do Estado do Pará – UEPA. A investigação se debruçou sobre os saberes e práticas das oferendas em religiões afro-brasileiras no âmbito do discurso ecológico que está sendo incorporado nas ações de alguns terreiros que compõem esses credos, já que os mesmos vêm sofrendo críticas a respeito do caráter de poluição ambiental que determinadas oferendas apresentam ao serem depositadas de maneira incorreta em unidades da natureza. Temos como objetivo central identificar como tal crítica está sendo recebida por três das denominações afro-brasileiras (candomblé, umbanda e tambor de mina), bem como registrar quais as práticas que estão sendo adotadas para solucionar a problemática. De natureza social e qualitativa o trabalho se baseou em pesquisa bibliográfica e de campo, abrangendo entrevistas com líderes das tradições religiosas em questão.
Introdução
Sabemos que o contexto vigente é profundamente marcado pela preocupação com o meio ambiente. O debate em torno da degradação ambiental se torna cada vez mais forte e iminente, mobilizando educadores, pesquisadores e formuladores de políticas públicas das mais diversas instituições sociais.
Com inspiração no trabalho de conscientização ambiental que vem sendo desenvolvido em todo o mundo, o debate se ampliou também para o campo do fenômeno religioso e desde então várias religiões e tradições espirituais se propõem em realizar trabalhos na área da conservação ambiental.
Entre as diversas religiões envolvidas nessas ações estão incluídas denominações ditas de matrizes da natureza, representadas principalmente pelas religiões afro-brasileiras, pois há uma grande discussão em torno das práticas ritualísticas desses credos. O debate gira em torno da necessidade de proteger da poluição ambiental os locais usados para a deposição de oferendas aos orixás, caboclos, encantados e outras entidades, tais como: cachoeiras, parques, lagos e até mesmos as ruas, uma vez que uma parte do material usado nos rituais é de caráter não biodegradável.
Buscando minimizar os conflitos existentes entre a necessidade de conservação do ambiente e a livre expressão religiosa dos adeptos e praticantes das religiões afro-brasileiras, garantida pela Constituição Federal, algumas alternativas vêm sendo estudadas e propostas a fim de resolver o problema que envolve os resíduos religiosos provenientes das oferendas deixadas na natureza, como forma de fomentar o diálogo e o respeito à diversidade cultural e ambiental. Assim, praticantes e simpatizantes de religiões afro-brasileiras são incentivados à adoção de práticas religiosas mais conscientes, sustentáveis e alinhadas com a necessidade urgente de conservação do ambiente.
Tendo o objetivo de investigar quais as medidas que estão sendo implantadas pelas religiões afro-brasileiras no sentido de proteger o meio ambiente, com financiamento da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-graduação da Universidade do Estado do Pará - UEPA e através do Núcleo de Pesquisa em Educação Científica, Ambiental e Práticas Sociais - Necaps, desenvolvemos uma pesquisa denominada “Saberes e Práticas sobre Oferendas em Religiões Afro-brasileiras: Uma Contribuição à Educação Ambiental na Amazônia” para mapear tais praticas sustentáveis em três denominações afro-brasileiras, a saber: candomblé, umbanda e tambor de mina.
A metodologia da investigação foi pautada em pesquisa bibliográfica e de campo. A investigação in loco se deu em terreiros localizados na região metropolitana do município de Belém-PA, abrangendo entrevistas semi-estruturadas com líderes religiosos das denominações com as quais nos dispomos a trabalhar. Foi entrevistado um sacerdote de cada religião, escolhidos por serem referência na questão da discussão sobre conservação ambiental. Como representante do candomblé participou da pesquisa Mãe Iyá Nalva D’Oxum, representando a umbanda tivemos a participação de Mãe Nazaré e o tambor de mina foi representado por pais Luís, também conhecido como Lodunsinê Tayandô.
Resultados
As oferendas nas religiões afro-brasileiras são práticas realizadas com o intuito de estabelecer uma ligação entre os homens e o transcendente. Funciona a partir de uma relação de troca; se oferta para pedir, agradecer, ou simplesmente para agradar uma entidade.
Essas oferendas são constituídas, em sua maioria, por produtos naturais tais como folhas e grãos. Entretanto, existem também outros elementos como bebidas alcoólicas, velas, recipientes de cerâmica e etc. Como dissemos anteriormente, as oferendas são depositadas em locais diversos e então surge a problemática da pesquisa, pois determinadas oferendas podem se tornar poluição ambiental já que não são de materiais biodegradáveis e também pelo fato de que alguns locais em que são dispostas, como avenidas asfaltadas, por exemplo, não oferecem condições para que haja uma decomposição rápida.
As entrevistas realizadas revelam que entre as três denominações pesquisadas os métodos propostos para a superação do impasse são similares.
A primeira medida tomada é evitar a deposição de oferendas em avenidas e locais muito movimentados e recobertos de asfalto para que as ofertas sejam entregues naturalmente a terra, o que facilita sua transformação em energia, ou seja, na linguagem não religiosa, sua decomposição. Os sacerdotes frisam que essa prática é importante não somente para prevenir a degradação ambiental, mas também para que as oferendas sejam, de fato, recebidas pelos seus deuses, uma vez que depositadas em locais não apropriados podem ser facilmente profanadas por outras pessoas. Como se posiciona Mãe Nalva, uma de nossas entrevistadas:
“Particularmente eu não vou colocar uma oferenda em uma avenida como a Almirante Barroso porque vai poluir sim, mas em primeiro lugar não vai servir aos meus orixás porque logo o lixeiro vai passar e levar como lixo. Então é preciso saber o lugar onde se coloca; em lugares afastados, onde não transitam muitas pessoas que é justamente para que ela seja naturalmente a terra.”
Outra prática freqüente é a substituição dos alguidares (recipientes de cerâmica utilizados para acondicionar as oferendas) por folhas. No que diz respeito ao uso de bebidas acondicionadas em garrafas, no momento das ofertas derrama-se o líquido e recolhe-se o recipiente, pois ele não tem significado nenhum nas oferendas. O mesmo se faz quando existe a necessidade de oferecer essências e outros produtos de origem líquida armazenados em garrafas.
Em caso específico da denominação umbandista, através de uma associação formada por adeptos dessa religião, busca-se junto à prefeitura da cidade um local específico, distante da área urbana, para que as oferendas de todos os associados possam ser depositadas sem incomodar e serem incomodadas pela sociedade, já que os umbandistas se sentem muito prejudicados em função de suas oferendas serem profanadas por pessoas alheias aos cultos afro-brasileiros.
Considerações finais
Determinados comportamentos mostram o importante papel que as religiões e as instituições religiosas desempenham no seio da sociedade, enquanto formadoras de opiniões e de valores sociais sobre as percepções, manifestações e, especialmente, sobre a identidade cultural de cada ser humano.
As práticas sustentáveis de deposição de oferendas nas religiões afro-brasileiras são iniciativas louváveis que contribuem com a preservação do meio ambiente.
Embora seja um trabalho praticado ainda por parcela muito pequena das denominações afro-religiosas, é o primeiro passo para que dentro de algum tempo a maior parte dessas tradições estejam engajadas nessa grande luta pela preservação do planeta; dando exemplo e mostrando o quanto as religiões afro-brasileiras são importantes no processo de construção de um contexto melhor para o mundo em que vivemos.
É importante que trabalhos pioneiros como esse, nas religiões afro-brasileiras e em outras religiões, sejam pesquisados e divulgados, como forma de fomentar ações semelhantes que visem proporcionar o bem-estar do meio ambiente.
Fonte:http://www.revistaea.org
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